Professora Amanda Gurgel – A voz dos professores do Brasil
Há tempos que venho falando aqui sobre a precariedade do ensino no Brasil tanto da parte da passividade dos pais quanto das baixas condições oferecidas aos professores mas agora encontrei um vídeo da professora Amanda Gurgel que demonstra bem como é a condição dos professores no Rio Grande do Norte mas que, infelizmente, é a mesma em todo o Brasil.
Enquanto isso o nosso querido governo forja descaradamente os números do IDEB – Índice de Desenvolvimento da Educação Básica com a política de educação do empurrão onde é praticamente proibido reprovar um aluno para que as estatísticas não sejam afetadas. A coisa funciona mais ou menos assim… Fulano está na 3ª série do ensino fundamental e não tem condições de passar para a 4ª série, mas como não se pode mais reprovar um aluno, coloca-se o pobre Fulano em dependência de algumas matérias, empurram o problema para os professores da 4ª série e assim é construída a base de um semi analfabeto escolarizado. Oras, um semi analfabeto escolarizado, como assim? É simples… o empurrão do nosso amigo fulano começou na 4ª série, onde ele começou a estudar em uma série sem terminar a série anterior e, sendo assim, sem condições de acompanhar uma turma de 4ª série. No final da 4ª série observa-se que o nosso amigo Fulano não deu conta de cumprir com todos os pré-requisitos para avançar para a série posterior, porém, não podemos reprovar o pobre Fulano, pois um aluno reprovado fica desestimulado e tem grandes chances de abandonar a escola, é o que dizem, então passaremos o coitadinho do Fulano para a 5ª série, deixamos ele em dependência de matérias da 4ª série e está tudo resolvido, correto? No mundo imperfeito dos sem cérebro, sim, mas na nossa realidade não está nada correto pois o Fulano ao passar da 3ª para a 4ª série já não havia cumprido com os requisitos básicos e, para resolver esse quadro, empurraram um trabalho qualquer nos olhos do Fulano para que, com apenas um ou dois trabalhos, ele adquirisse toda a experiência de 1 ano letivo inteiro e assim, promove-lo de fato à 4ª série. Como é óbvio que o Fulano não conseguiu acompanhar a turma da 4ª série pelo simples fato de não ter um requisito fundamental, que é o de cursar e passar a 3ª série, volta o aluno a ficar enganchado mais uma vez na 4ª série, reúne-se o conselho de marmotas e, mais uma vez, para não atrapalhar nas estatísticas, passa-se o Fulano para a 5ª série nas mesmas condições que ele chegou na 4ª, ou seja, sem os requisitos básicos para cursa-la e assim sucessivamente até o fim de sua lastimável e imaginária carreira escolar.
E à essa altura do campeonato você deve estar se perguntando o que diabos isso tudo tem haver com o discurso da professora Amanda Gurgel, certo? Então voltaremos… a professora Amanda Gurgel, além de receber uma miséria em seu contra-cheque, é a responsável por pegar essa toupeira fabricada pela política educacional do empurrão, transformá-lo em um aluno e dar, pelo menos, a mínima condição necessária para que essa toupeira deixe de ser toupeira e seja promovida a gente, sabendo escrever, ler e interpretar um texto da forma correta. Mas a professora Amanda Gurgel, como bem disse, tem suas necessidades básicas que vão muito além da comida que ela precisa colocar em casa. Ela precisa comer, dormir, se locomover e, principalmente, se manter atualizada para ser sempre uma ótima professora e, para isso, ela é obrigada a trabalhar mais do que deveria para que o salário dela se multiplique(?) e seja suficiente para, pelo menos, o básico que ela necessita.
Agora vem a melhor parte: Isso tudo cansa. Trabalhar 12h por dia é cansativo pra caramba (sim, já trabalhei 12h por dia durante algum tempo), sacrificar a família é cansativo e desgastante, sacrificar o seu próprio descanso é terrivelmente prejudicial para a sua saúde física e mental e, finalmente, sacrificar a sua paciência resolvendo a vida do amigo Fulano Toupeira que foi obrigado a passar para uma série que não condiz com sua realidade é o fim da picada.
E o que acontece com a professora Amanda Gurgel depois desse tanto de sacrifícios? Ela é tratada como uma palhaça pelos governantes que, no final das contas, chegam para ela com um bando de números sem sentidos e dizem: “Mas professora, a educação no Brasil vai bem e é nossa prioridade! Tenha paciência que um dia a sua condição vai melhorar.”
E sabe quem é a professora Amanda Gurgel na realidade? É cada um dos professores da rede pública de ensino que habita cada sala de aula cheia de alunos despreparados que foram empurrados de uma série para outra em prol das estatísticas educacionais que, afinal, estão sempre muito bem, obrigado.