Game of Thrones e o #mimimi por causa dos livros

Eu perdi um tempão fazendo isso então se forem copiar, deem os créditos.
Já falei aqui que brasileiros não sabem acompanhar séries e recentemente descobrimos um novo fenômeno onde brasileiros além de não saber acompanhar séries, desconhecem o significado da palavra adaptação. Como estou de bom humor, vamos lá:
a·dap·ta·ção
(adaptar + -ção)
substantivo feminino
1. .Ato de adaptar.
2. Processo de integração progressiva de algo ou alguém. = AJUSTE
Via:Dicionário Priberam da Língua Portuguesa
Pois bem, agora que todos já sabemos que o processo de adaptação da série de livros para a TV pode ser chamado também de AJUSTE, devemos notar que quando tentamos ajustar algo à outro às vezes significa ter que suprimir partes ou detalhes que não prejudicarão o resultado final como um todo.
Quando falamos de uma série de livros tão rica e complexa como As Crônicas de Gelo e Fogo que, até o momento, possui 5 volumes lançados e com previsão para ter 7 volumes, é, no mínimo, tacanho imaginar que absolutamente todos os detalhes dos livros estariam presentes na série. Conheço menos que pouco à respeito de gastos em produções para a TV mas já no fim do primeiro livro d’As Crônicas de Gelo e Fogo dá pra imaginar que seria impossível trazer todo o universo do livro para a TV sem ter muito, muito dinheiro e muito mais tempo do que vocês possam imaginar. Só de personagens, são mais de 2000, fora os figurantes que não tem qualquer participação significativa na história.
Dá pra imaginar produzir uma série com mais de 2000 personagens que influenciam a história de qualquer forma? Meio impossível, certo?
Fora os personagens, temos ainda os lugares que, na TV, são chamados de locações. Sei que hoje em dia dá pra fazer muita coisa em estúdio, em computação gráfica e muitos outros artifícios que, de uma forma ou de outra, consomem muito tempo E dinheiro. Além do mais, se fosse pra fazer tudo em computação gráfica e estúdio a qualidade da série iria lá embaixo ou ficaria bem estranho e é por isso que a série é gravada em diferentes partes do mundo em diferentes épocas do ano.
Diante disso tudo, ainda temos que saber diferenciar o que é o público do livro com o público que acompanha a série somente na TV. Eu sei que pra muitas cabecinhas de alfinete é difícil imaginar que alguém assista à série e não fique com vontade de ler o livro. Vamos lá pequeno gafanhoto, estamos falando de uma cultura onde livros não são prioridade e que existe uma grande diferença entre comprar/ter os livros e lê-los de fato. Conheço pessoas que leram todos os livros, conheço pessoas que desistiram de ler o livro ao ver o tamanho (físico) do terceiro livro e conheço muita gente que sequer cogita a hipótese de ler o livro. O que passa na TV está bom pra eles. Os motivos não importam agora e, acreditem, é a parte menos importante dessa coisa toda. Cada um tem seus motivos e partindo do ponto de vista de que Game of Thrones ou As Crônicas de Gelo e Fogo são basicamente entretenimento, as pessoas deveriam gastar o tempo livre delas da forma que acharem melhor e não seguindo o que sua pequena cabeça define como ideal.
A adaptação que a HBO está fazendo dos livros para a TV está simplesmente fantástica e eu sequer consigo imaginar o trabalho que deve dar pegar todo esse universo complexo dos livros, adaptar pra uma linguagem mais fácil de acompanhar, cortar centenas e centenas de personagens, espremer praticamente um livro em 10 capítulos de cerca de 50 minutos e manter as duas histórias bem idênticas. Eu realmente parabenizo os diretores/roteiristas da série. Esse é um serviço que poucos são capazes de executar.
Vamos à um exemplo prático? Adoro exemplos práticos!
Nos livros, o personagem Theon Greyjoy simplesmente some por um livro inteiro, o que, na TV, seria algo como sumir por uma temporada inteira. Quando ele aparece novamente, ele está com o nome mudado e, segundo a descrição no livro, completamente irreconhecível, ao ponto de pessoas próximas não conseguirem o identificar logo na primeira olhada. Imagine agora isso acontecendo na série de TV onde temos um salto de 2 anos entre final de uma temporada para o começo de outra com o espaço de uma temporada entre as duas. Sim… o personagem deveria ficar fora de cena por 2 anos inteiros e, quando voltasse, muita gente sequer iria lembrar dele, principalmente se estivesse tão desfigurado como o livro descreve. Isso já dá um nó na cabeça das pessoas que leem os livros, imagine na cabeça das pessoas que estão acompanhando apenas a série da TV.
Esse exemplo que citei serve, principalmente, para que notem que o ritmo dos livros é um e o ritmo da série é outro completamente diferente. A série precisa ser fácil e rápida. Nos livros o autor pode brincar da forma que achar melhor, ele tem liberdade total pra escrever. Na série o que manda é a audiência, é o envolvimento dos fãs com os personagens e com a história. Não dá pra esconder um personagem tão importante da trama por 2 anos por mais que ele seja amado ou odiado.
Outa coisa que vem dando um nó na cabeça de muitos que leram os livros é relativo aos livros 4 e 5, O Festim dos Corvos e A Dança dos Dragões respectivamente. Justamente por terem acompanhado os livros as pessoas criam uma linha do tempo em suas cabeças e muitas vezes não conseguem conceber que os dois livros acontecem ao mesmo tempo e são divididos geograficamente, enquanto um se passa em Westeros o outro se passa em Essos, mas tudo ao mesmo tempo. Se os diretores da série fossem fazer o mesmo na TV teríamos uma temporada inteira sem o Tyrion Lannister, Daenerys Targaryen e todos os outros personagens que estão do outro lado do Mar Estreito. Imaginem agora o #mimimi se espalhando com “cadê o anão?” ou ainda “cadê os dragões?”. Facebook e Twitter cairiam todo domingo durante e depois da apresentação de cada episódio da série.
Minha opinião sobre o andamento da história
É fato notório que, pelo andar da carruagem, quem já leu os livros, logo começará a levar spoilers sobre o que ainda não foi escrito e lançado. Obviamente deve-se notar que até o final dessa temporada o conteúdo dos livros já lançados estará quase que completamente esgotado. A próxima temporada virá recheada de spoilers que certamente não irão afetar a leitura dos próximos livros que serão lançados, isso porque o conteúdo do livro é tão vasto e tão detalhado que, como já disse antes, é impossível retratá-lo por inteiro na série.
Existe também a possibilidade de termos dois finais diferentes, um para a série da TV e outro para os livros. Isso não é impossível tampouco incomum. Acontece o tempo inteiro com parte das adaptações de livros para a TV ou cinema. Você vê poucas pessoas reclamando justamente porque poucas pessoas leem de fato os livros.
Game of Thrones (a série para a TV) e As Crônicas de Gelo e Fogo (a série de livros) são obras muito diferentes e com públicos bem distintos e, se você não tem maturidade suficiente pra entender que uma série de TV não pode, por motivos diversos, ter o mesmo tempo e pegada de uma série de livros tão complexos, acho melhor você abandonar um dos barcos e continuar apenas no que estiver mais fácil para o seu entendimento da coisa toda. Sério. Não é feio dizer que não dá conta. É melhor do que ficar simplesmente reclamando e torrando a paciência de quem está procurando apenas um pouco de diversão.
Se isso te deixa mais confortável ou menos desconfortável com essa história toda, o #mimimi dessa vez não foi só de brasileiros. O #mimimi foi geral ao ponto de o próprio autor dos livros, George R. R. Martin, ter que vir a público explicar o óbvio.